domingo, 28 de agosto de 2011

Documentário: Além de Nossas Diferenças

O documentário com 8 prêmios em 2008, o  "Beyond Our Differences" é um grande panorama da cultura de paz como solução para os conflitos no mundo. Acessem: http://www.beyondourdifferences.com/ e no FB clique aqui.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Chile cria um Sistema Nacional de Mediação

O Ministério da Justiça do Chile cria estrutura para adotar a mediação de conflito de forma ampla em conflitos familiares, escolares e de vizinhos. Visite: http://www.mediacionchile.cl/MinJusPubl/Sitio/index.aspx




segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mediação de conflitos é proposta da Polícia Comunitária para prevenir aumento da criminalidade

Notícia: Gazeta do Pantanal - Redação: Polícia 04/04/2011

A comunidade atendida pela 4ª Delegacia de Polícia Civil da Capital, da região das Moreninhas, tem disponível um diferencial dentro da unidade: o trabalho de mediação de conflitos. Com ações que buscam diminuir a criminalidade de forma preventiva, através da filosofia de Polícia Comunitária, a delegacia propõe novas formas de lidar com a resolução de conflitos e crimes de menor potencial ofensivo.
De acordo com balanço da 4ª DP, em todo o ano passado 185 casos foram mediados para uma decisão rápida e que beneficia de alguma forma ambas as partes envolvidas nos casos.
Além de proporcionar uma decisão rápida para os casos a mediação também desafoga o sistema Judiciário. “Mas o nosso principal objetivo com esta ação é apaziguar o ambiente”, afirma o investigador de Polícia Civil, Francisco de Melo. Ele é mediador e um dos responsáveis pela implantação do projeto na delegacia, com o delegado titular Wellington de Oliveira.
Para Francisco, a atividade que busca manter a paz na comunidade é responsável também por garantir que os índices de violência não aumentem com o crescimento da população na área atendida pela 4ª DP. “Podemos dizer que a maior virtude da mediação é a agilidade que ela dá na solução dos casos e com propostas criadas pelos próprios envolvidos”, observa o investigador.
Em um artigo elaborado sobre o projeto de mediação, Francisco explica que é importante a criação de núcleos de mediação de conflitos porque há uma demanda muito grande. “Os chamados Fatos Atípicos, que viram casos de polícia, conflitos interpessoais, ‘disputas’ que, mal administradas, se agigantam e se transformam em violência e crime”.
Conforme o policial civil, cerca de 95% dos casos mediados na delegacia chegam a uma solução exitosa. Ele explica que a opção de mediação de conflitos é oferecida a todos os casos que cabem à ação, ou seja, crimes de baixo potencial ofensivo. Assim, só são mediados casos onde ambas as partes se propõem a chegar a um acordo.
Comunidade e escolas
A participação da comunidade também é importante para a ação, segundo afirma o investigador Francisco de Melo. Por isso a delegacia também se empenha em atuar em dois Conselhos da Comunidade: da região das Moreninhas e região do Bandeira. “A delegacia está à frente de 22 escolas públicas nestas regiões”, lembra. Os conselhos apontam para os policiais que atuam na área quais são os crimes que mais afligem a população daqueles bairros, conforme diz o investigador.
Reuniões em escolas e monitoramento de alunos também está dentro da filosofia de Polícia Comunitária praticada pela 4ª DP. “Tem que funcionar uma rede que envolve pais, escola e alunos”, reforça Francisco. Através do trabalho de orientação alunos considerados problemáticos também passam a ser o foco da ação comunitária realizada pela delegacia.
“Fazemos este trabalho com alunos-problema antes que eles se tornem irrecuperáveis”, diz. De acordo com o policial civil, a resposta tem apresentado uma eficácia considerável, visto que de cada dez alunos atendidos, pelo menos cinco apresentam melhoras no comportamento e no rendimento escolar.
“Existe uma conversa, a gente orienta e isso não só com os estudantes. Os pais também participam porque muitas vezes o problema não está no aluno, mas no ambiente em que ele vive. Por isso é tão importante que funcione esta rede que envolve a família”, comenta.
O conselheiro explica que a ação se baseia no artigo 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente que prevê que dirigentes de escolas de ensino fundamental devem comunicar aos conselhos tutelares casos de elevados níveis de repetência, reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares, entre outros casos. “Mas em Campo Grande só temos um conselho tutelar e com isso estamos contribuindo para o desafogamento e oferecendo novas formas de resolver o problema”, afirma.
O projeto é desenvolvido desde o primeiro semestre de 2009 da 4ª Delegacia de Polícia Civil. “A população tem aprovado essa participação da polícia, atuando na causa, fazendo a prevenção de problemas”, conclui o investigador.

Escutatória, de Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.

Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.

Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... (O amor que acende a lua, pág. 65.)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"Alguém vai lidar com isso.", a Síndrome Genovese

Quanto mais expectadores  e envolvidos, maior a chance de não haver nenhuma intervenção para interromper atrocidades.


Segundo a Wikipedia, Catherine Susan Genovese (7 de julho de 1935Nova York13 de março de 1964Nova York), mais conhecida como Kitty Genovese, era uma mulher estadunidense que foi esfaqueada até a morte próximo de sua casa em Kew Gardens, no QueensNova York. As circunstâncias de sua morte e a aparente reação (ou falta de reação) dos vizinhos dela foram relatados num artigo de jornal publicado duas semanas depois e instigaram investigações do fenômeno psicológico que tornou-se conhecido como "efeito espectador", "responsabilidade difusa" ou "síndrome Genovese".


Fenómeno sociologico que acho fascinante: difusão de responsabilidade.
Este tem duas vertentes que que acho interessantes:
O efeito de espectador ou Sindrome de Genovese: Baseia-se no seguinte facto: numa situação que coloque em perigo um individuo, quanto maior o numero de testemunhas, menor a probabilidade de alguma delas intervir. Isto foi comprovado por várias experiencias, numa delas era colocado um voluntário isolado num quarto e era lhe dito que haviam outros voluntários em quartos adjacentes que comunicariam com ele por altifalantes. Na verdade o voluntário em questão estava sozinho, as vozes nos altifalantes eram gravações. Deste modo os responsaveis pela experiencia poderiam variar o nº de supostos voluntários que o verdadeiro voluntário percepcionava.
Numa das gravações, a dada altura era dado a perceber ao voluntário que uma das outras supostas pessoas tinha um enfarte. Quando a cobaia pensava estar sozinha com o homem que tinha o enfarte, em 100% dos casos esta interveio de alguma forma. Mas à medida que eram percepcionados mais sujeitos esta percentagem foi decrescendo, até que a partir dos 8 sujeitos percepcionados, muitas das cobaias nem sequer avisaram os responsáveis da experiencia acerca do sucedido.

Fonte: http://perguntaerrada.blogspot.com/2008/07/pergunta-4-responsabilidadedifusa.html e Wikipedia